o fim do homo normalis - conclusão
"O borderline apresenta justamente problemas na área da identificação-identidade. O neurótico (e aqui eu me refiro tanto ao neurótico “normal” quanto ao “doente”) tendo vivido identificações suficientemente boas e portanto criado uma eficiente regulação endo-psíquica não está coagido a estabelecer relações duais passionais, podendo vincular-se com o outro através de um terceiro termo, comum e externo ao par. Já o borderline necessita das pessoas para estabelecer relações duais, afim de efetuar identificações e viver relacionamentos mais primitivos e passionais. Na tentativa de aplacar sua angústia e seu vazio os borderlines tanto podem parar nos consultórios como podem, assumindo a sua múltipla identidade, a sua angústia de desintegração, o seu vazio, a sua precariedade de identificações, atuar produtiva e criativamente no terreno das artes, da cultura, do social. O contingente de borderlines tem crescido em vista das condições sociais, culturais e familiares. Mas esta mudança parece acompanhar as necessidades de um mundo em rápida transformação. Por isto mesmo o ideal de homem está mudando. Se até há algumas décadas atrás o homem ideal era aquele certinho, bem-comportado, obediente, obsessivo, estável e, como diz Deleuze, bem-educado, polido, resignado, hoje em dia temos um novo ideal: dele se espera criatividade, inquietude, agressividade, angústia. Em condições de estabilidade o homem podia encastelar-se em suas certezas e em sua estrutura desatendendo ao movimento do mundo, ao seu vir-a-ser; o normal era o homem bem estruturado, da linhagem da neurose. Diante de um mundo em constante transformação foi preciso estabelecer uma nova relação de conhecimento. O homem teve de abandonar o seu reduto, as suas certezas, o seu castelo ideológico e teórico, para lançar-se, com todas as angústias conseqüentes, sobre um mundo em devir. Viver neste mundo instável, exigiu outro modo de estar no mundo, outro tipo de relação e de conhecimento. Quero por último dizer que o normal de linhagem borderline, aquele que põe em funcionamento seu corpo vibrátil[i], poderia ser bem considerado como o representante do pós-modernidade. É uma pessoa que pode manter-se criativa pois se encontra em regime de identificação dual-porosa[ii], podendo atravessar as máscaras e os territórios para se conectar diretamente com os afetos puros, podendo, a partir destas percepções, sensações e sentimentos reorganizar suas máscaras e seus territórios de uma forma inédita. Na verdade, se examinarmos com cuidado e atenção certos procedimentos analíticos, aqueles em que a evolução da relação analítica, vai de um relacionamento comum para uma intensa relação transferencial, com a ativação de fantasmas primitivos, poderemos dizer que já de há muito a psicanálise transita na direção da normalidade de linhagem borderline."
[i] Ver Suely Rolnik (1989)- “Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo”, pag.25/6. Estação Liberdade, São Paulo.
[ii] Ver Armony,N.(1995)- “Guerra, Identificação e Sociedade” in Humanidades, vol`10, número 3, UnB.
[i] Ver Suely Rolnik (1989)- “Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo”, pag.25/6. Estação Liberdade, São Paulo.
[ii] Ver Armony,N.(1995)- “Guerra, Identificação e Sociedade” in Humanidades, vol`10, número 3, UnB.
1 Comments:
Muito obrigada por tanta informação...vai é demorar tempo a ser toda processada porque sentida a frio e assim imediatamente só prevalece o sentimento de proximidade com o meu "caso".
Borderlines...
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