domingo, dezembro 17, 2006

de interesse público

eu escrevo como penso, não penso como escrevo.nunca sei o que vou escrever, nunca planeio uma moral ou uma narrativa, uma ideia. vou deixando sair, sair, vai saindo.na cama tenho ideias geniais, teorias nunca dantes concebidas, lampejos predestinados, mas acho que a a almofada as comeu.e aqui chego, vazio, e o que sai é ar,ou entra, não sei.eu estou sempre a dizer isto, realmente não sei muita coisa. Adiante. escrever uma linhas sobre escrever umas linhas é realmente um assunto muito interessante.deve ser por isso que nao tenho mais nada para dizer. ou não me apetece. não sei.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

t-shirt

eu nao bebo muito, mas quando o faço, transformo-me noutra pessoa e essa bebe como o caralho

quinta

levantar, fumar um cigarro, lavar a cara, mijar, cigarro, fazer café, cagar, beber café com um cigarro, ir á tasca do canto comprar tabaco(é só vestir o casaco por cima do tronco nu, espetar o barrete na tola e os pés nos chinelos), cigarro, tirar o barrete e o casaco, mais café, água 1,5 mg de paroxetina e outros tantos de cipralex, banho. não, banho, não, tocaram á porta, é o xico, Então pá, Tão, foste às aulas, Sim, vou bazar pa Faro, Como, De comboio, Vou ao multibanco comprar o bilhete, já passo aí, Ok. Esperar pelo xico antes do banho para abrir a porta, esperar, esperar, banho. lavar os dentes, ir á do sr António comprar pão ,queijo e cerveja, Panrico sem colesterol, ainda bem, tenho isto alto, Ai é, Pois, é de familia, isso e a tensao alta, Pois, é de familia. beber, cigarro, cigarro, beber, cigarro, beber, cigarro,cigarro, ouvir música, sacar música, ouvir música,cigarro, beber, lavar loiça, cigarro.
Perdi a paciência para contar mais.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

cito

"Eu pertenço àquela classe de loucos eternamente insatisfeitos, sedentos de tudo, e gosto só de pessoas assim"

Bob Dylan

dismorfia

hoje

Desintegração, dismorfia de mim, saudade do quê, De mim, ou não, de ti, Talvez, mas ao ao fim ao cabo não é o mesmo? Saudade daqui é saudade de mim, dali , e de ti, não será também? Esta música lembra-me disto, daquilo, de ti, de vocês, de nós, de mim. não és tu um reflexo? não existes. És só um pedaço de mim, O quê, És só um pedaço, Do quê, De mim, és uma projecção, és para mim o conceito que existe, a imagem que vejo, a voz que ouço, o que eu quero que sejas. Não existes fora de mim. Quem, eu, Tu, sim, tu e toda a gente, pensa lá, o que é o mundo para ti, Sei lá, O teu mundo és tu, e nada do que existe que escape aos limites da tua percepção é real, eu para ti sou outro do que sou, um outro que é teu, só existe em ti.
Sei lá, se calhar. Ou não.

domingo, dezembro 10, 2006

o fim do homo normalis - conclusão

"O borderline apresenta justamente problemas na área da identificação-identidade. O neurótico (e aqui eu me refiro tanto ao neurótico “normal” quanto ao “doente”) tendo vivido identificações suficientemente boas e portanto criado uma eficiente regulação endo-psíquica não está coagido a estabelecer relações duais passionais, podendo vincular-se com o outro através de um terceiro termo, comum e externo ao par. Já o borderline necessita das pessoas para estabelecer relações duais, afim de efetuar identificações e viver relacionamentos mais primitivos e passionais. Na tentativa de aplacar sua angústia e seu vazio os borderlines tanto podem parar nos consultórios como podem, assumindo a sua múltipla identidade, a sua angústia de desintegração, o seu vazio, a sua precariedade de identificações, atuar produtiva e criativamente no terreno das artes, da cultura, do social. O contingente de borderlines tem crescido em vista das condições sociais, culturais e familiares. Mas esta mudança parece acompanhar as necessidades de um mundo em rápida transformação. Por isto mesmo o ideal de homem está mudando. Se até há algumas décadas atrás o homem ideal era aquele certinho, bem-comportado, obediente, obsessivo, estável e, como diz Deleuze, bem-educado, polido, resignado, hoje em dia temos um novo ideal: dele se espera criatividade, inquietude, agressividade, angústia. Em condições de estabilidade o homem podia encastelar-se em suas certezas e em sua estrutura desatendendo ao movimento do mundo, ao seu vir-a-ser; o normal era o homem bem estruturado, da linhagem da neurose. Diante de um mundo em constante transformação foi preciso estabelecer uma nova relação de conhecimento. O homem teve de abandonar o seu reduto, as suas certezas, o seu castelo ideológico e teórico, para lançar-se, com todas as angústias conseqüentes, sobre um mundo em devir. Viver neste mundo instável, exigiu outro modo de estar no mundo, outro tipo de relação e de conhecimento. Quero por último dizer que o normal de linhagem borderline, aquele que põe em funcionamento seu corpo vibrátil[i], poderia ser bem considerado como o representante do pós-modernidade. É uma pessoa que pode manter-se criativa pois se encontra em regime de identificação dual-porosa[ii], podendo atravessar as máscaras e os territórios para se conectar diretamente com os afetos puros, podendo, a partir destas percepções, sensações e sentimentos reorganizar suas máscaras e seus territórios de uma forma inédita. Na verdade, se examinarmos com cuidado e atenção certos procedimentos analíticos, aqueles em que a evolução da relação analítica, vai de um relacionamento comum para uma intensa relação transferencial, com a ativação de fantasmas primitivos, poderemos dizer que já de há muito a psicanálise transita na direção da normalidade de linhagem borderline."

[i] Ver Suely Rolnik (1989)- “Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo”, pag.25/6. Estação Liberdade, São Paulo.
[ii] Ver Armony,N.(1995)- “Guerra, Identificação e Sociedade” in Humanidades, vol`10, número 3, UnB.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

o fim do homo normalis

"Com a industrialização cresceram as cidades, esgarçaram-se os vínculos afetivos e estabeleceu-se uma nova socialidade: a Gesselschaft onde impera o contrato formal nas relações sociais. Trata-se de uma sociedade impessoal e anônima. As pessoas são tratadas como unidades produtivas e não como unidades afetivas, maquinificando o homem que então pode ser facilmente descartado. Os homens tornam-se psicologicamente isolados. O indivíduo já não se identifica com a comunidade como um todo o que facilita o aparecimento de sentimentos de solidão, vazio e futilidade. Esta Gesselschaft refere-se ao modelo capitalista oitocentista caracterizado por uma economia de mercado voltada para a acumulação de capital através de uma ética da produção. Eram valores desta época, o trabalho, a honestidade, a disciplina, a sobriedade, a repressão[i]. É neste período que a teoria psicanalítica surge. Na fase pós-industrial, esta que estamos vivendo, o capitalismo já não necessita da mobilização intensiva da força de trabalho e portanto já não necessita de uma moral rígida, disciplinadora, incentivando então o lazer, o consumismo, o hedonismo[ii]. Acrescentemos a este quadro a velocidade, a mudança, a imagética, a dessacralização (da autoridade, das ideologias, etc.), a multiplicidade, a singularidade, o culto ao corpo, a concentração de renda, a violência, etc. Este é o contexto que podemos postular como interagindo com instituições, pessoas e famílias, numa inter-causalidade circular e criando condições para o aparecimento do borderline."

Nahman Armony
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