segunda-feira, julho 03, 2006

parte II

Eles já foram. Deixaram-me. Como quando tinha cinco anos e perdi-me na praia. Fiquei sozinho. A única imagem que tenho desse momento é do mar. das ondas, do vazio, do nada. Da solidão absoluta. Deixaram-me sozinho. Hoje a minha carne perguntou-me, Tu não conheces a tua personalidade, e eu disse que não. Tu tens percepção do que és, do que fazes ás pessoas que amas? Não. Porque fazes o que fazes? Não sei. Porquê? Não sei, não sei. Tens noção de como está o teu pai? Sim, tenho, alguma. Incomoda-te? Sim, mas não. Porquê? Não sei, não sei. Tens o recibo da medicação? Tenho, mas a senhora enganou-se e pôs no meu nome. Assim não serve de nada, não dá para descontar nos impostos. Foda-se, tou-me a cagar para a merda dos impostos, que se fodam os impostos. Não percebo, andré, não percebo, já viste a idade que tens, toda a gente se está a orientar, e tu continuas na mesma, tu tens que trabalhar, tens que começar por algum lado, seja o que for, quando é que deixas de ter pena de ti próprio? Sim, tens razão, Tou farta de dizeres que sim, que sim, devias chamar-te o senhor sim\sim, é só o que dizes, tá bem. sim, sim, mas não te vejo a fazer nada, a tomar uma atitude, nada, e as lágrimas correram-lhe pelo rosto. E eu? Eu ri-me. Eu ri-me. É só que eu sei fazer, rir, gozar com os outros, com uma sobranceria genética de quem acha que sabe tudo e não sabe nada. eu ri-me. não há nada para rir, e eu ri-me, irónicamente. O absurdo completou o circulo. Spin in black circle, como canta aquela banda de quem eu sequer nem gosto muito. Não percebo, filho, Eu também não, e nem sequer desculpa pedi.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

comigo é parecido... todas as mães querem o melhor para os seus filhos. custa me retribuir o seu amor. simplesmente abraçá la. já o fiz. antes. mas é assim. no futuro será melhor. já me chamaram de pedra. como uma rocha. duro. sentimentos escondidos. mal escondidos. eles estão lá todos. como os teus mano..

3:04 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home